Era uma vez
Fui menino entre mangueiras e umbuzeiros
A observar um céu de migalhas translúcidas
Um futuro de grandezas aladas sobre o ar.
Correr livre pelo descampado agreste
Agitando a bandeira simples da felicidade,
Sob o disco eterno de bronze, essência;
De uma existência plena. Um céu terreno.
Hoje homem entre as montanhas cinzentas
Num mundo de temperatura oscilante
Entre um céu e inferno além da ficção
Caminho entre os ferozes falcões os chacais.
Choco-me com a realidade transpassada e fria,
Um deserto luminoso dançando noturno pergunta:
Onde estão os bambuzais a farfalhar ao vento
O orquestrar dos pássaros sem regimento?
Sou menino, hoje bardo ofuscado e descabido
Em meio ao trovejar dos motores, semáforos
Procurando a poesia por entre torres de vidro
Rodeado por cercas esquizofrênicas e creches.
Os manicômios são pousadas de raros pássaros
As casas de repouso multiplicam-se ao quádruplo;
Restam as contas, bolsas, horários. Funda-se,
Finda-se o afago, o afã, o passado é passado.
Fui menino, sou vago, sem do vento o meigo afago.
Um comentário:
Profundo e Melancólico, lembrou-me Manuel Bandeira, falando da Morte.
Mas o que é a morte senão transformação para outra dimensão, outras experiências em função da expansão.
bjs.
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