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segunda-feira, 14 de março de 2011

CIRCUNSTANCIAL

Hoje, presenciei uma injustiça sendo cometida. Não! Muito mais que uma injustiça, utilizando a maçante linguagem jurídica: houve elemento típico, um crime propriamente dito, mas resolvi ignorar apesar de todos os consequentes problemas noturnos de consciência. Talvez pela simples conveniência de não perder o ônibus e ter que esperar o próximo.
Três homens que hodiernamente exercem uma profissão ou atividade de relevante valor social. Eram coletores de lixo, comumente chamados de "lixeiros"; palavra ou substantivo que significaria, numa terminologia científica mais acurada, mais técnica: "especialista, pessoa capaz de lidar ou utilizar o lixo de forma eficiente.
Os três homens perseguiram o pobre mendigo no decubito do calçamento público por aproximadamente dez metros, até que um dos três, num chute certeiro, acompanhado do ligeiro estender dos braços, conseguiu deter o miserable numa semi imobilização. O trio começou a espancar aquele ser que a vista dos diversos olhares que passavam, que aguardavam um ônibus qualquer, ou que simplesmente transitavam sem objetivo algum, parados a frente de um bar, desperdiçando o tempo e as palavras em qualquer discussão tola. Aquela coisa cinzenta e inodora - na perspectiva do meu ponto de observação - se contorcia e urrava, intercalando um abafado pedido de socorro que se perdia em meio aos socos e pontapés, enquanto todos, incluindo este narrador, absorviam a cena que se desenrolava,atônitos com o transcorrido injusto. A brutalidade da cena estava ali; clara e evidente diante de nossos olhos. Uma covardia inebriante e contagiosa se espalhou pelo ar junto com o zunido dos automóveis.
Eu poderia ter tentado coibir a agressão; ter filmado com meu moderno celular e sua sofisticada câmera digital; poderia ter chamado a polícia, denunciado o crime e ter produzido depoimento para eventual processo, mas eu fiz a escolha mais fácil, prática e frouxa do ponto de vista moral que foi não perder meu ônibus que parara diante de mim.
Embarquei no exato momento em que a bota pesada de um dos agressores pressionava a cabeça imóvel da pobre vítima sobre o concreto do calçamento.
Sob todos os aspéctos, a vitima me parece, no exato momento em que escrevo, mais digna que eu.

2 comentários:

Leila Sl Ribeiro Uzum disse...

Claudeni, um dia desses disse: "posso compreender tudo, mas não sou obrigado aceitar tais atitudes para mim."
Com certeza minha atitude teria sido outra , porém te compreendo.
O bom de tudo isso, é a conscientização de si mesmo, de que poderia ter feito diferente.

Beijos, meu querido amigo.

Solange disse...

Nós humanos somos,fracos,falhos e covarde,diante de situaçôes como esta.Temos consciência do que é certo ou errado,mas nem sempre temos coragem te tomar uma atirude,e talvez evitar certas barbaridades do cotidiano.