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domingo, 5 de fevereiro de 2012

PRAZERES

Cozinhava um delicioso strogonoff , ouvindo uma coletânea dos Doors – Light my Fire, enquanto meu cachorro Marllow, um spaniel preguiçoso está esparramado na porta com se fora um tapete de peles. Minha biblioteca, que acabei de pintar com um lilás fosco, aguarda; não completamente bagunçada, porém um pouco desajeitada. Lá fora, os “irmãos” realizam um desses cultos ao ar livre. Está quente e é um domingo sem final de campeonato. Mais tarde um pequeno bolo entre os amigos marcará mais um ano de vida completado por meu pai. Entre os livros e a panela, volta para incrementar o tempero da carne com um curry e constato pela quarta vez que não comprei coentro. A coletânea já está em “Raiders on the storm”. Um aroma muito bom penetra minhas narinas no mesmo instante em que uma confusão de sons entre minha música e o culto dos irmãos se junta ao caos de um domingo movimentado. Meu estômago reclama do horário avançado. Outro cachorro late ao portão simultaneamente a pergunta de minha mãe: “ já almoçaram?”. Respondo que estou cozinhando. O cachorro continua a latir até que ela se afasta. Estou quase pronto – talvez eu ouça Miles Davis enquanto saboreio um bom prato com um tinto Saint German. Termino a refeição com uma satisfação solitária. A preguiça do meu spaniel que continua deitado no limiar da porta começa a me contagiar. Com uma sonolência morosa, fito uma gravura da esfinge de Gizé na parede a minha frente. “The end” é a faixa final da coletânea. “This is the end”.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

poesia contempolivre: REQUIEM

poesia contempolivre: REQUIEM

MEU CORPO PERGUNTA

Se pudesse te impressionar com poesia
Seria ela gratuíta?
Ou de valor se revestiria?
O que teu corpo
Desnudado
me diria?

REQUIEM

Sobre teu corpo de papiro nu
Sobre a seda chinesa de tua penugem eriçada
escreverei meu último poema
com versos contados em que não caíbam mais palavras.

E com o artifício de meus dedos em tinta
Serei o artesão do verso perfeito e ditoso
A sorver o divino néctar de teus amores.

E ao alvorecer de um novo dia estarás
Pasmada na embriaguez de toda minha arte
que se esvaiu em apenas um crepúsculo,
e consumiu-se em nossos suspiros e lamúrias,
na perfeita fusão do artista e sua esgotada arte.

Depois de teu corpo inteiro consumido em versos
Não há poesia que se falar ou canção para se cantar.