Seguidores

sábado, 14 de abril de 2012

NA COZINHA

Música, a vida e feita de “música” e a música da vida é a vida de todos nós. Pequenos trechos desta vida é composta do que fazemos, do que consentimos que se faça e até mesmo daquilo que nos contradiz – esta é a música que não nos agrada. É pensando um pouco nessa melodia – a que me agrada – que estou na cozinha, preparando uma refeição simples e – acho – saborosa para compartilhar. Talvez como um ritual se que perpetua, enquanto separo a matéria prima de minha arte simples: ingredientes, condimentos e panelas – alias, preciso comprar umas panelas decentes, talvez adquira um jogo de panelas retrô esmaltadas e coloridas – ouço música, daquela que compõe nossa universo de “música” essa porem tocada e cantada. Preparo uma massa comum e tradicional e nada mais justo que ouvir um italiano, o melhor dos italianos, Andrea Bocelli.
Enquanto cozinho penso em todas as coisas boas que devo misturar – no preparo e na vida, como se aquilo que estou a fazer fora um presente, o que na verdade o é; um presente para mim mesmo para aqueles que me acompanham e – principalmente – para ti, que na distancia me inspiras com teus olhos, com teu gosto, com teu pedido de que preparasse e te “trouxesse” algo de bom, com teu sorriso e com o modo que você me olha ou observa na penumbra de tua censura a mim tão cara; portanto, não te ofereço algo bom, ofereço-te algo especial enquanto escuto a “Romanza”. Deixo as coisas separadas e organizadas na bancada. A mesa limpa com uma fruteira sorridente e repleta – acabo de degustar uma Pêra –essa fruta era considerada um aperitivo dos deuses. Será por isso que o formato dela me lembra a formosura feminina? Ouço “Per amore” , lavo as mãos e conduzo os olhos através da janela – meu cachorro que outro dia estava melancólico, agora late; acho que não gosta de música italiana – ; as cebolas com suas varias camadas de desgosto me fazem chorar enquanto recoloco a primeira musica “Con te partiro”, choro pela cebola, apesar de poder chorar por tua “partiro”. As tomates estão meio pálidas mas servem como complemento ao tempero pronto – preciso aprender um molho caseiro – a saudade aperta enquanto organizo as especiarias que me permitem um sabor peculiar no que faço, apesar de sempre acabar falhando, mesmo com todo o empenho. Estou em “II Mare Calmo Della Sera” e pela terceira vez – da música – começo a organizar todos os componentes para finalmente levar ao forno. Reorganizo as coisas, tomo um gole de refrigerante – gostaria que fora um vinho – enquanto meus sentidos e minha mente pairam por algum lugar a procura de tua presença. Este meu sentimento por aquilo que me é alheio, proibido e quase impossível, me mostra como num espelho de verdades ocultas que sou um “Miserere” – esta também é música que já repeti por dez vezes. Só tenho este disco em italiano! Tudo pronto eu agradeço como por uma prece tácita. A lasanha à bolonhesa está pronta, falta o produto da vinícola e você. Levo um pedaço de mim para tua distância. Fim da música.